Valeria Vianna
O Ocidente, ao longo dos últimos séculos, explorou o mundo material incansavelmente, dividindo, subdividindo e compartimentando o ser e todas as coisas palpáveis. Para isso, criou medidas e classificações segundo os seus padrões. Essa maneira de entender o mundo foi fortemente influenciada pelo filósofo René Descartes (século XVII), que comparava o universo a um relógio, cujo mecanismo e funcionamento caracterizavam-se pela perfeição. O corpo era equiparado, então, ao mecanismo de uma máquina e a mente e a alma humanas eram vistas como entidades separadas do corpo físico.
Também Newton, na Física, investigou as leis do universo e desenvolveu uma interpretação da lei natural que ficou conhecida como “física newtoniana”. Na sua visão, a natureza de fato funcionava como um mecanismo e seus movimentos eram regidos por leis imutáveis. As leis da gravidade, da termodinâmica, do eletromagnetismo, das reações químicas, entre outras, foram desenvolvidas a partir desta interpretação. Atualmente, sabe-se que essas leis são verdadeiras apenas numa “camada” da realidade. Em se tratando da física atômica e subatômica, essas leis não têm validade, pois estão em uma camada mais sutil de relacionamentos energéticos.
Desde Einstein e Planck, a física moderna vem descobrindo que existem muito mais coisas no mundo do que fomos levados a acreditar. E, nas últimas décadas, assistimos a uma tentativa cada vez maior de resgatar a visão do mundo Oriental, na qual há muito predomina uma concepção holística, que considera o todo, suas partes e inter-relações.
As culturas tradicionais do Oriente acreditam que, subjacente às forças físicas e mentais do mundo, há todo um domínio de relacionamentos e fluxos em energia mais sutil. Esse domínio sutil está implícito no domínio físico, sendo este último mais facilmente percebido. Quando um desequilíbrio físico ou mental se manifesta, significa que ele se iniciou primeiramente no domínio mais sutil, decorrente de algum tipo de obstrução ou bloqueio do fluxo de energia. A saúde é o livre fluxo de energia.
A tradição do Tantra Yoga, cuja origem remonta há mais de cinco mil anos, nos ensina que tudo o que existe emana de uma mesma energia principal,desde as realidades mais sutis e espirituais até as realidades mais materiais. Essa energia primordial é a própria fonte da vida e de todo ser consciente – é a energia vital chamada de Prana. O Prana permeia todo o universo, Isvara. É a energia física, mental, intelectual, sexual, espiritual e cósmica.
A vida é concebida como um movimento de energia consciente que passa por diversas fases à medida que se desloca dos campos mais sutis para a forma física mais densa. Considera-se que esse movimento de energiaestá impregnado da consciência ou da percepção que surge a partir da energia primordial - o Prana.
O principal objetivo do Tantra é conduzir o indivíduo a tomar consciência do seu sistema de energia (prana) e assim equilibrá-lo. Somentedessa forma é que o ser pode alcançar um estado de suprema consciência, reconhecendo e vivenciando a interligação e interdependência entre todas as coisas, ou seja, que o movimento de energia na humanidade é um reflexo da energia universal. E, dito em termos tântricos,que o ser individual é o ser total,Jivatma é Paramatma.