Ricardo Coelho
Em nossa evolução através das ondas de existência, passamos por vários níveis de consciência e, considerando um processo idealizado, teremos, a cada nível, ou cada chakra na visão tântrica, uma correspondente visão de mundo. E assim a cada passo nessa grande corrente evolutiva, o que num momento era a nossa verdade (a que considerávamos como abarcando a totalidade), passa a fazer parte de uma totalidade maior, na qual ela é apenas uma parte. Desse modo, uma verdade, que considerávamos como total, passa a ser uma verdade parcial para o novo nível de consciência emergente.
A evolução, assim, se faz pela diferenciação e integração. Diferenciamos o que era fundido no nível anterior e o integramos na totalidade mais abrangente do novo nível evolutivo adquirido.
Tentemos ser mais claros com um exemplo: em certo momento do nosso desenvolvimento ontogênico (na primeira infância, por exemplo) não conseguimos diferenciar o corpo da mente – eles são entendidos como sendo a mesma coisa em nossa consciência. Com a emergência da mente lógica, percebemos que mente e corpo não são a mesma coisa , que a mente pode perceber o corpo como algo separado ou diferenciado dela. Nesse momento ocorre a diferenciação. Para que o processo evolutivo prossiga de forma adequada é necessário dar o passo seguinte, que é integrar conscientemente corpo e mente na nova visão de mundo. Dessa forma o processo evolutivo se faz pela transcendência e inclusão. Transcendemos o nível evolutivo anterior e o incluimos como parte do novo nível de consciência adquirido ou desvelado.
Imagine a visão de um círculo maior abrangendo e incluindo um círculo menor, esse é o chamado Grande Ninho do Ser, descrito em todas as grandes tradições de sabedoria, com algumas pequenas diferenças e descrito aqui de forma resumida. Assim, a mente transcende e inclui o corpo, a alma transcende e inclui a mente e o Espírito transcende e inclui a todos.
Porém, nem sempre o processo se dá de maneira suave e natural. Muitas vezes, após a diferenciação, por vários motivos, ao invés de ocorrer a natural integração do nível que foi diferenciado, uma das partes é reprimida ou dissociada. Transcendemos, porém não incluímos de maneira adequada e completa.
E é nesse ponto que ocorre uma fissura no desenvolvimento, que apesar disso, na maioria dos casos pode continuar seu processo de evolução (caso essa fissura não seja de grande monta, o que muitas vezes até mesmo estanca o restante do processo). Mas aquela fissura ficou lá atrás, marcada e pode influênciar e atrapalhar o desenvolvimento sadio posterior, especialmente quanto mais alto (ou profundo) vamos avançando em nossa evolução.
É nesse ponto que a terapia tântrica apresenta recursos de grande utilidade, pois ela busca preliminarmente “curar” essas feridas e reforçar a estrutura do eu antes que possamos dar o passo seguinte em nossa evolução rumo ao Espírito.
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1 (claro que estamos descrevendo o nosso universo dualista, não cabendo aqui a discussão sobre a não dualidade, que se dá somente na consciência una)